sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cuidado com potros recém nascidos


 * Por: Danielle De Maria
 O nascimento é a passagem da vida intra-uterina ao mundo exterior. Na vida fetal os filhotes têm facilidade para se alimentar, são protegidos pela mãe, têm temperatura constante e mais alta que o ambiente, etc. O nascimento faz com que a vida intra-uterina seja trocada por um ambiente mais hostil, com predadores, variações de temperatura, necessidade de se alimentar por conta própria entre outras características.
Os cuidados com os potros começam ainda na vida intra-uterina, principalmente no terço final da gestação. A égua necessita de isolamento em um piquete, com alimentação adequada à parturiente e bem próximo do parto, requer um piquete maternidade. É importante lembrar que quanto mais se artificializa a criação dos eqüinos, mais aumenta a fragilidade dos filhotes.
O parto das éguas ocorre preferencialmente durante a madrugada, o que dificulta o acompanhamento e “facilita” a proteção do neonato, evitando assim qualquer perturbação. O início do parto é marcado geralmente por uma queda de temperatura corpórea da égua.
O parto pode ser dividido didaticamente em três estágios: o primeiro é de inquietação com dor abdominal. O segundo compreende a ruptura da bolsa, o início do nascimento e o ato de respirar. O terceiro estágio é a liberação dos envoltórios fetais (placenta) que leva de trinta minutos a três horas do início do parto.
Neonato é o animal recém nascido. A duração deste estado é de 48 horas a 4 meses, no caso dos mamíferos. A variação depende da condição de sobrevivência do filhote sem a mãe. Se ocorrerem distúrbios durante a gestação ou parto, o filhote deve ser acompanhado, no mínimo, por 24 a 48 horas pós-parto. Uma gestação normal vai de 335 a 342 dias.
Vale lembrar que a condição da saúde materna e status corpóreo influ­enciam diretamente sobre a condição do feto. As alterações mais graves que ocorrem são: distocias (mau posicionamento fetal), desco­lamento precoce de placenta, inércia uterina, idade materna avançada, produção insuficiente de leite e mastite.
O exame clínico do potro recém-nascido não difere do exame de um adulto, porém os parâmetros são outros. A importância deste está na necessidade da rápida atuação do médico veterinário nos casos de emergências neonatais.
Principais cuidados com o recém-nascido
• Sistema respiratório
Quando o feto ultrapassa a pelve da mãe, ocorre a dilatação do pulmão seguida da aspiração do ar para dentro das vias aéreas, o diafragma se contrai e se forma a pressão intra-torácica negativa.
Alguns fatores estimulam a respiração: ausência de imersão, estímulos da mãe (lamber), frio, luz, diminuição da pressão de O2 e aumento de CO2, etc. A primeira inspirada é a mais difícil.
A freqüência respiratória no recém-nascido é de 50 a 60 movimentos/minuto. Em casos de alterações, verificar se há uma camada mucosa revestindo a cavidade nasal e/ou oral. Se houver, removê-la com pano seco e limpo.
Se ocorrer dificuldade respiratória por conteúdo líquido, é necessário massagear as narinas, friccionando da cabeça ao focinho. A respiração pode ser estimulada elevando o posterior do animal, friccionando o dorso com pano limpo ou palha, batidas com a palma das mãos na parede torácica ou jato de água fria.
Nos casos de não se restabelecer o padrão respiratório em 2 a 3 minutos, utilizar oxigenioterapia para evitar morte ou danos cerebrais.
• Sistema cárdio-circulatório
O sistema circulatório na vida intra-uterina é bastante diferente de animais recém-nascidos. A troca gasosa é realizada pela placenta e não pelo pulmão. Artérias e veias umbilicais involuem formando cordões fibrosos delgados.
Se ocorrer algum problema com falta de oxigenação nos recém-nascidos, acarretará o retorno do sistema circulatório fetal, o que se torna fatal após o nascimento.
O exame das membranas mucosas é de suma importância: devem se apresentar róseas e úmidas, e o tempo de preenchimento capilar deve ser igual ou inferior a 2 segundos.
No momento do nascimento, a freqüência cardíaca é de 60 a 80 batimentos/minuto, entre uma e doze horas pós-parto ela é de 120 a 140 bat/min e após 12 horas, 30 a 40 bat/min.
• Temperatura
A temperatura retal do potro deve ser aferida e estar entre 37,5 - 38,5ºC. Um desvio acima ou abaixo é preocupante e requer a presença do veterinário.
• Cordão umbilical
Após o término do parto, a égua permanece deitada; e é assim que tem de ser. Este tempo serve para que diminua a circulação sangüínea do cordão umbilical. No momento em que ela se levanta, o cordão se rompe.
Se a égua se levantar e o cordão não romper, deve ser “cortado” por um médico veterinário dentro dos procedimentos de assepsia, na linha de destacamento natural.
O coto umbilical deve ser embebido em iodo a 2%, tanto por dentro como por fora. Este procedimento auxilia na prevenção de infecções ascendentes que “entram” pelo cordão ainda não cicatrizado. O curativo deve repetido diariamente até que a ponta do cordão caia ou este se feche. A infecção deste cordão umbilical e dos vasos ali localizados são denominadas onfalo­fle­bites.
• Excreção de mecônio
Mecônio são as “fezes” (secreções, fluídos, células e bile) produzidas e acumuladas no intestino durante a vida intra-uterina, a partir da segunda metade da gestação. A coloração vai de marrom amarelada a marrom escura.
A liberação do mecônio deve ocorrer entre 4 a 5 horas pós-parto. Se isto não ocorrer deve-se interferir, do contrário o potro manifestará cólicas abdominais.
Os sinais clínicos de retenção do mecônio são notados entre 6 a 12 horas pós-parto e incluem a redução da freqüência de mamadas, dor ao defecar, cauda erguida, cólica, decúbito dorsal e inquietação.
O tratamento deve ser realizado por um médico veterinário logo aos primeiros sintomas. Após poucas horas da defecação, ocorre a primeira micção. Se for notada a eliminação de urina pelo umbigo, o potro requer mais atenção, pois ocorre a persistência do úraco, sendo assim o veterinário deve avaliar a condição e optar por aguardar ou promover o fechamento cirúrgico.
• Amamentação
O leite da égua é o alimento essencial aos recém-nascidos, tanto em quantidade como em composição. Só é necessário que se avalie a quantidade de anticorpos nele presente.
O reflexo de sucção do filhote começa a partir da manutenção do potro em pé, o que demora em torno de uma hora.
É necessário que se observe se o potro realmente conseguiu localizar o úbere da mãe e está sugando o primeiro leite, do contrário, são indicados exame clínico e ingestão forçada do colostro. O colostro é o primeiro alimento (primeiro leite) do neonato, tanto do ponto de vista nutricional como imunológico. A dose recomendada é de 1 a 2 litros divididos em mamadas de hora em hora, com a quantidade de 150 ml. A ingestão do colostro é mantida até 12 horas do nascimento.
O período mais crítico da vida do recém nascido são as primeiras 24 horas e este deve coincidir com a ingestão do colostro (até 6 horas do nascimento), pois nos eqüinos, pelo tipo de placentação o neonato não recebe nenhum tipo de anticorpos durante a gestação. Estes anticorpos devem ser absorvidos pela mucosa intestinal e são eles que vão garantir a imunidade até a idade de aproximadamente 6 a 8 meses.
As éguas produzem em média 15 a 18 Kg/dia de leite. A glândula mamária não produz anticorpos, apenas os concentra (originam do sangue). No caso de animais prematuros, órfãos ou rejeição da égua, o recém-nascido deve receber anticorpos do colostro de outro animal. O ideal é que o haras, quando de criação, mantenha um banco de colostro para eventuais problemas, e até de leite, e em último caso usar o aleitamento artificial (sucedâneos do leite).
O volume de colostro retirado da égua pós-parto, para formar o banco, pode variar de 150 a 200 ml. A conservação é feita no freezer de -15º a -20º C.
A quantidade de leite “artificial” deve ser de aproximadamente 10% do peso do potro que mama a cada 2 horas, porém conforme a quantidade de leite por mamada aumenta, o intervalo entre elas também aumenta. O aleitamento artificial pode ser fornecido em mamadeiras ou baldes.
• Isoeritrólise neonatal
É uma síndrome que ocorre nos potros recém nascidos por incompatibilidade sanguínea do potro com a égua. É mediada a partir dos anticorpos maternos, que são absorvidos através do colostro, e que respondem contra os eritrócitos (hemácias) do potro. Clinicamente nascem normais e após a primeira mamada se apresentam deprimidos, fracos e com o reflexo de sucção diminuído após 12 a 72 horas.
A gravidade do quadro é determinada pela quantidade e atividade dos anticorpos absorvidos. Mais tardiamente os sintomas são: taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), taquipnéia (aumento da freqüência respiratória) e dispnéia (dificuldade respiratória). A mucosa oral vai de pálida à ictérica nos potros que sobrevivem 48 horas.
Casos muito agudos poderão evoluir à morte. É importante lembrar que fêmeas que manifestaram a síndrome não deverão amamentar na gestação seguinte. Assim é necessária fonte alternativa de colos­tro.
• Septicemia neonatal
É a principal causa de óbito e conseqüentemente perdas econômicas. A taxa de sobrevivência dos acometidos é baixa e quase sempre acaba por causar danos irreversíveis, infecções localizadas ou atrasos no crescimento.
As infecções podem ocorrer na vida intra-uterina ou logo após o nascimento. Após o nascimento, a causa mais comum é a falta de imunidade passiva recebida através do colostro.
Os principais sintomas são desidratação, apatia, movimentação inco­ordenada que podem se agravar a convulsões e morte.
• Fatores normais
Em média, 7 dias pós-parto a égua apresenta o primeiro cio, conhecido como cio do potro. Justamente nesta fase o potrinho passa por um quadro de diarréia que dura de 2 a 5 dias.
Algumas pesquisas demonstram que está diarréia é resultado de uma mudança na flora intestinal. Não há necessidade de tratamento, mas o uso de probiótico oral tem sido recomendado em alguns casos.
Após o segundo mês de vida, o potro já pode iniciar a alimentação a base de rações (concentrados), específica para a idade. Também nesta fase este já ingere feno, capim e água de boa qualidade.
Em torno de 4 a 6 meses de idade são desmamados. O que determina o período de desmame é a taxa de crescimento e a capacidade da ingestão do concentrado. Nesta fase já deve ser vacinado, vermifugado, e se necessário casqueado. A partir do desmame o potrinho já se torna praticamente um “cavalo” no que se refere às características de alimentação e comportamento.
* Danielle De Maria (CRMV – SP 9314) é formada pela Universidade Paulista (UNIP), com especialização em medicina esportiva eqüina: clínica, cirurgia e reabilitação. Fone: (11) 9955-1196

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